sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Roceiro hi-tech

Seu moço um dia escutei
Falar na televisão
Na tal globalização
E muito me preocupei
Confesso que hoje num sei
Ainda o que quer dizer
Procurei compreender
E ainda hoje pelejo
Pois tudo enquanto que vejo
Seu moço eu quero saber.

Vejo o repórter falando
Em coisas que não entendo
Quase nada compreendo
Mas eu fico observando
E ele lá explicando:
Per capita e importação
Bolsa de valor, Japão
Déficit, terrorismo, CIA
Chip, tecnologia
Euro, dólar, cotação...


Em meus tempos de menino
Era tudo tão normal
Veio a era digital
Para mudar o destino
Às vezes eu imagino
Que as crianças de hoje em dia
Sabem mais do que eu sabia
Quando eu era criancinha
Pois em meu tempo não tinha
A tal tecnologia.

Sabe, eu muito resisti
A aceitar a mudança
Eu tinha desconfiança
Que isso nada valia
Até que num certo dia
Ganhei um tal celular
Meti o pau a ligar
Falei com Deus e o mundo
E gastei mundos e fundos
Pra mode a conta pagar.

Como eu fiquei revoltado
Com aquela situação
Fiquei sem nem um tostão
Deixei o bicho de lado
Mas depois, mais relaxado
Resolvi ficar com ele
Pois um bicho igual àquele
Devia de ser importante
Daquele dia em diante
Nunca mais me larguei dele.

Dias depois ouvi falar
De uma tal internet
Pensei: “Lá vem outra peste
Pra mode me perturbar.”
Meu filho foi me explicar
Como ela funcionava
Quanto mais ele explicava
Menos eu compreendia
A tal tecnologia
Em mi’a mente não entrava.

Até que meu filho entrou
Em um tal de Facebook
Meu coração em batuque
Pois muito me admirou
Quando ele cutucou
Um amigo  no estrangeiro
Mudou pro Rio de Janeiro
Falou com mi’a filha Aninha
Conversou com mi’a netinha
E assim foi o dia inteiro.

Falei com um montão de gente
Mandei recado e mensagens
Postei fotos e imagens
Me senti adolescente
Que negócio inteligente
Esse tal computador
É um bicho espantador
E mesmo sem ter dinheiro
Navego no mundo inteiro
Vou da China ao Equador.

Hoje, InDesign, Corel
MSN, Outlook
E-mail e Facebook
Power point e Excel
Dual-Core, Pentium, Intel
Disco rígido, gigabite
Blog, Twitter e site
Comigo não tem mutreta
Tudo isso tiro de letra
Numa boa, bastante light.

Eu vivo do meu roçado
E moro numa palhoça
Mesmo vivendo na roça
No mundo sou antenado
Na Net vivo ligado
Só pra dar um feedback
Até me sinto um moleque
Falando em memória RAM
Ou jogando numa LAN
Sou um roceiro hi-tech

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