Se morrer a poesia...
Se por tragédia morrer a poesia
Murcham-se os jardins, secam-se as rosas
As violetas, tão meigas, cheirosas
Não exalam perfumes ao raiar o dia.
Morre o poeta, e com ele a alegria
Caem as estrelas, se dissipa a lua
Calam-se todos os bandolins da rua
Morrem os boêmios, morrendo a poesia.
Os violões em frente às janelas
Ficarão mudos, caem em nostalgia
E sofrerão em pranto as donzelas...
Aos quatro cantos choram em agonia.
Transformar-se-á o amor em mazelas
Finda-se o mundo morrendo a poesia.
Quem somos nós, os poetas?
Somos os outros, os loucos, os poucos
Que sabem sonhar.
Que sabem sonhar.
Somos inventores, sonhadores, pesquisadores
Na arte de amar.
Somos os que choram, os que oram e imploram
E buscamos saída.
Os que juntam os pedaços, os cacos, os bagaços
Que sobraram da vida.
Somos a saída, escondida, esquecida
Da porta de trás.
Somos a amargura, a tortura, a trágica figura
De quem amou demais.
Somos os fiapos, os trapos, os farrapos
De um coração partido
Somos o sentimento, o sofrimento, o tormento
De um amor perdido.
Somos a lua, a rua, a noite nua
Da velha infância.
Somos a alegria, a fantasia, a euforia
A mendicância.
Somos até mesmo o que não somos, o que não fomos
E o que um dia seremos.
Somos o dia que chegará, o amor que virá
O sonho que viveremos.
Somos a paz que na lápide jaz, o perdão que ficou para trás
Somos a vítima, a justiça, o réu
Somos o viver, o morrer e o renascer
Transcrito numa folha de papel.
Somos a ilusão, a perdição, a utopia...
Enfim,
Somos os loucos que escrevem poesia.
Poesias de João Rodrigues
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