quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Do Riacho para o Rio!

No trabalho, apresentando um vinho
Certa vez o Velho Lula, o artista-símbolo desta abençoada Terrinha, cantou: "Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu bodocó / meu malote era um saco e meu cadeado era um nó / eu vim só com a coragem e a cara / viajando num pau de arara / eu penei, mas aqui cheguei...". E que sertanejo não se identifica com esta letra?
Afonso Silva Carvalho, ou simplesmente Afonso, é a cara desta música, assim como milhares de outros nordestinos.
Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba, no sertão do Ceará, ele fez o que já fizeram milhares de nordestinos, resolveu deixar a terra natal e tentar a vida na cidade grande. Largou a enxada e outras ferramentas e comprou a passagem para o Rio. Lá chegou no dia 8 de outubro de 1986. Sem estudo e sem experiência profissional, conseguiu o primeiro emprego como faxineiro, numa Discoteca no Alto da Boa Vista. E penou! Até que chegou a uma conclusão: precisava estudar.
No Ceará não tinha tempo pra escola, para encarar a dureza do campo não precisava de estudo, mas na cidade grande, sim. Então resolveu deixar a boate e foi trabalhar de ajudante de cozinha num restaurante: outra dureza! Tempos depois, um amigo, Riabamar Viana, levou-o pra trabalhar como comim em outro restaurante. E então as coisas começaram a melhorar.
Resolveu estudar. Mudou para a área hoteleira, concluiu o Ensino Médio, cursou inglês e espanhol, fez curso de Sommelier na Associação Brasileira de Sommelier (ABS) e hoje é Maitre num grande hotel da Zona Sul carioca e Suplente da Diretoria do SIGABAM (Sindicato dos Garçons, Barmen e Maitres). Mas até chegar onde está não foi fácil. E outra vez penou! Só que desta vez o objetivo era outro: crescer intelectual e profissionalmente. E conseguiu.
Afonso, que antes tinha vergonha de falar sobre sua escolaridade, hoje sente orgulho da estrada percorrida. Certa vez disse o poeta que "No meio do caminho tinha uma pedra", e com certeza também havia milhares de pedras no caminho deste bravo sertanejo, forjado no calor escaldante do sertão, mas que nunca desistiu da luta. E sonhou! E sofreu! E, enfim, realizou-se. Afinal, fez jus ao nome, pois Afonso quer dizer "Guerreiro preparado".
Hoje, casado e pai de dois filhos, ele é um outro homem. Tem uma outra visão de mundo, de trabalho e de família. Adora o ramo gastronômico, mas aconselha aos jovens nordestinos que sonham com as terras do Sul que estudem, se aperfeiçoem e procurem crescer, para que não se tornem apenas mais um sertanejo, como certa vez disse Graciliano Ramos, em seu romance Vidas Secas: "E andavam para o Sul metidos naquele sonho. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano", e como muitos Afonsos que se enfiaram mundo afora atrás de realizar seus sonhos.
O sucesso foi feito para todos, mas as dificuldades também foram feitas para todos os que almejam o sucesso. Cabe a cada um escolher um caminho. E Afonso já escolheu o dele.

Posando para nosso Blog
Eu, desgustando um Chakana, com meu amigo Afonso

Isaías, Afonso e André

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