sexta-feira, 13 de abril de 2012

A dura vida na roça (e feliz também)



Quando a passarada canta
O cabôco se alevanta
Do corpo a moleza ispanta
Dá um chêro na muié
Ela ali se ispriguiçano
Vai logo se alevantano
E os dois vão cunversano
Pra cuzinha fazê café.

Dispois desse ritual
O cabra vai pro curral
Pois seu dever matinal
É tirar leite do gado
Essa rotina é sagrada
Não pode dexá por nada
Adispois bate a inxada
E arroxa pro roçado.

Se a terra tá bem moiada
O cabra desce a enxada
Num quer saber de mais nada
Eito de mato caíno
O sol aos pôco, isquentano
E o cabra a inxada puxano
O suó desce, pingano
Mais é este seu destino.

O ligume tá uma beleza
É essa a maior riqueza
Qui a bela mãe natureza
Dá ao cabôco da roça
Que trabaia no pesado
Tá todo dia no roçado
E sente um orgúio danado
De sê homi de mão grossa.

O feijão vai inramano
O mi tombém se ispaiano
E o mato acompaiano
E o cabra coçano a venta
Dizeno: o mato é pesado
Nem que eu morra de cansado
Mas eu num faço roçado
Pra intregá pra jumenta.

Cedo dêxa o arrebol
Trabaia de sol a sol
Cruvado ingual caracol
Derrubano a jitirana
Vida de rocêro é assim
A luta nunca tem fim
Só se diverti um poquin
Lá pro final de semana.

E assim se leva a vida
Na roça é pesada a lida
Mas num tem ôta saída
Pra quem num quis istudá
A escola é a picareta
O professor é a marreta
A inxada é a caneta
E o verbo é trabaiá.
João Félix

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