sábado, 31 de janeiro de 2015

Janeiro acabou; e nada de chuva!

O mês de janeiro geralmente é bastante esperado pelo sertanejo, pelo agricultor, pelo criador de gado, enfim, por praticamente todo o Nordeste. Afinal, este é o período de inverno nessa região.
Mas hoje é dia 31 de janeiro. A lua está brilhando no céu azulado, que mais parece um mês de agosto. Enquanto escrevo este texto, às 6 e dez da noite, o suor pinga do meu corpo. Lá fora, nenhuma folha balança, o que significa que nem ventando está. Sem sombra de dúvida, este é o pior janeiro que já vi, quando se trata de chuva aqui.
Neste mês choveu apenas uma vez em Reriutaba, uma chuva rápida, e que na ocasião serviu para resfriar um pouco e trazer esperança de uma sequência de chuva - esperança esta que logo morreu com o correr dos dias.
Amanhã será 1º de fevereiro. Temos que ter fé e esperança de que um bom inverno ainda está a caminho daqui, e que não tardará.


Apelo de um roceiro
Meu Deus no sertão é preciso chover
Se não vai morrer o meu alazão
O chão está seco, todo esturricado
Tá morrendo o gado, sem água e ração.

Fui ver meu roçado, o milho morreu
Despareceu o que plantei por lá
Nem um pé de planta na roça sobrou
A seca chegou no meu Ceará.

Meu Deus eu não peço nem glória ou riqueza
Só quero a certeza de um bom inverno
Só peço ao Senhor que chova no chão
Sem chuva o sertão vai virar um inferno.

Aqui o matuto que vive da roça
Que tem a mão grossa, que vive do eito
Se ajoelha ao chão e começa a rezar
Para não faltar esperança no peito.

Ele é homem forte, tem garra e tem fé
No bom São José, que o inverno vem
Sem chuva o roceiro fica derrotado
Pois o seu roçado é tudo o que tem.

Eu sei que o Senhor pros homens tem plano
Eu sei, não me engano, mas meu coração
Quando vê o mundo todo de azul
Fica tu-tu-tu, cheio de aflição.

Desculpe, meu Deus, se tou abusando
Lhe incomodando, pedindo demais
É porque aqui, ó meu Pai eterno,
Sem chuva, sem inverno, nós não temos paz.


 João Rodrigues Ferreira. Resistência. Expressão Gráfica: Fortaleza, 2014.

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