quinta-feira, 26 de maio de 2016

Minha doce infância


Ainda me lembro dos doces dias de minha infância, hoje um pouco desbotada pelo tempo, mas clara em minha memória como uma noite enluarada no sertão.
Naquele tempo, minha rua (na verdade era meu terreiro) era uma festa toda noite. Meninos brincando de bola de meia, de casamento, do poço, pega-pega, esconde-esconde, bila, pneu velho, banho de chuva, enfim, de uma série de brincadeiras; brincadeiras essas que não vejo meu filho e sobrinhos brincando hoje (eles usam brinquedos eletrônicos, que compram prontos).
Durante o dia, sob as árvores – pés de oiticicas, pés de cajueiros –, ou na beira do riacho, a meninada pingava fogo. Era um pra lá e pra cá, um vai e vem, um corre-corre danado... ninguém parava.
As casas pequenas davam um sinal de que ali residiam pessoas humildes, simples, mas a limpeza sinalizava pessoas limpas e decentes, o que dava um certo ar de tranquilidade ao meu lugar. Nossos pais não se preocupavam quando íamos para a escola sozinhos, ou quando saímos para comprar algo na bodega, ou quando íamos pra casa de um vizinho ou tio, pois sabiam que não havia perigo – a não ser uma vaca recém-parida ou um cachorro doido. À noite, não saíamos sozinhos mesmo, pois tínhamos medo de alma, de caipora, de amortalhado...

Hoje, distante muitos anos daquilo tudo, me lembro com saudade daquela época que não volta mais. Mesmo assim, sabendo que nunca mais voltarei a ter uma doce infância, sou feliz por ter tido essa doce infância e por saber que ela continua vivinha da silva dentro de mim. 

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