Que o ano que se passou teve lá
seus percalços, não se pode negar. Mas qual o ano que não tem? Mas pesando bem,
foi muito positivo para mim, principalmente na área literária.
E para fechar 2015 bem, Papai
Noel me trouxe um presente, embora tenha aparecido lá em casa bem depois do Natal. E que presente! Dois exemplares de minha mais recente publicação
chegaram ontem em minhas mãos, direto do Rio Grande do Sul, onde participei da Antologia "Natal Prosa e Verso" - Edição Internacional, organizada por Rô Mierling, com o conto “Natal por outro ângulo”. É uma coletânea de poesias
e contos natalinos escrita por 15 escritores selecionados de todo o Brasil. E para
abrilhantar ainda mais este trabalho, a edição é bilíngue: português /
espanhol.
Leia o texto na
íntegra, em português e espanhol.
Natal por outro ângulo
As ruas estavam enfeitadas.
Lojas e shoppings decorados com árvores de Natal e milhares de luzes coloridas
que piscavam intermitentemente. O clima natalino pairava no ar. Fogos de
artifícios estouravam aqui e ali. Algumas pessoas ainda passavam correndo em
direção ao lar. Certamente a ceia estava sendo preparada e os familiares as
esperavam para a confraternização. Toda casa tinha uma mesa farta, repleta de bebidas,
panetones, rabanadas e uma infinidade de guloseimas. Crianças correndo pra lá e
pra cá brincando com seus presentes que o Papai Noel trouxera. Uma música
animada convidava todos a uma dança. Rostos alegres distribuíam sorrisos a
todos que passavam. Apesar do frio que fazia, o calor humano aquecia tudo, e
para aqueles mais frientos ainda existia um casaco de peles ou uma jaqueta. Era
Natal. Nada perturbava aquele clima. Todos estavam unidos pelo mesmo espírito
de paz e amor.
Mas como para toda
regra há uma exceção, havia alguém ali que não tinha razões para se sentir
assim. Não fora contagiado pelo espírito natalino. Pois o espírito natalino não
invade almas, ele tem que se deixar entrar. Para isso, o coração tem de estar
alegre, e nem todos tem motivos para isso. E nem mesmo naquela alegre noite, o
Pivete via razões para alegrar-se.
Para todos os lados
que o Pivete olhava via cores, luzes, guloseimas, crianças brincando com
brinquedos novos e coloridos. As ruas animadas contrastavam com o seu rosto
triste, e seu estômago ansiava por pelo menos algumas migalhas das mesas fartas
das casas abastadas. As cores e o brilho das ruas não eram suficientes para
afastar a escuridão que repousava em sua alma, nem as centenas de pessoas que
frequentavam ruas e praças naquela noite eram capazes de lhe oferecer um pouco
de companhia.
Entrou na igreja.
Lá dentro havia um presépio, e viu o menino Jesus deitado, cercado de animais e
vigiado por Maria e José. Onde andariam seus pais agora? Sentou-se em um dos
bancos em frente ao presépio, tentou se lembrar de seus rostos, mas apenas uma
mancha passava por sua mente – a fome não o deixava pensar. Fazia frio lá fora.
Sentiu um pouco de conforto com o calor das velas, com a limpeza do assoalho; o
branco das paredes lhe deu uma sensação de paz. A paz que nunca havia sentido,
nem mesmo quando vivia com a mãe. Teve vontade de que ela aparecesse ali. Lembrou-se
dela lhe abraçando. Era um abraço gostoso... e teve vontade de abraçá-la
também. Um fio de lágrima escorreu de seus olhos. Olhou outra vez para fora,
viu mães segurando seus filhos pela mão, desviou o olhar, mas ao virar-se viu o
menino Jesus acompanhado dos pais. Já tinha ouvido falar de Jesus, o filho de
Deus. Até Ele tinha pais! Quis ser o menino Jesus, sentiu vontade de entrar no
presépio, mas teve medo. Sempre tinha medo.
Algumas pessoas já começavam a chegar
à igreja. Umas o olhavam, desconfiadas; outras nem mesmo sentiam sua presença.
Deu uma última olhada para o menino Jesus, e sentiu uma pontinha de inveja.
Mais pessoas chegavam. A igreja estava ficando cheia.
Saiu. A solidão
estava lhe esperando na porta. Sentiu o frio lhe abraçar, cruzou os braços. Os
sinos dobravam, anunciando o Natal. Fogos estouravam no ar, espalhando diante
de seus olhos luzes coloridas. Distraiu-se um pouco. Saiu correndo para ver a
queima de fogos mais de perto.
Meia-noite. Homens,
mulheres e crianças se abraçavam e trocavam presentes, bebiam e comiam à
vontade. Confraternizavam-se. A TV começava a apresentar a Missa do Galo. A
paz, a comunhão, a solidariedade, o amor ao próximo... O clima de Natal
espalhava-se pelo ar e atingia a todos, menos o Pivete, que olhava o pipocar
dos fogos, indiferente. Para ele todas as noites eram iguais, pois certamente
não conhecia aquelas palavras, assim como também não sabia de que forma saciar
sua fome.
E saiu, sozinho,
pelas tristes ruas de uma alegre noite de Natal.
NAVIDAD CON OTROS OJOS
Las calles estaban adornadas. locales e shoppings adornados con árboles de Navidad y miles de luces coloradas que brillaban intermitentemente. El clima navideño llenaba el aire. Pirotecnia explotaba aquí y allá. Algunas personas aún pasaban corriendo hacia la casa. Seguramente se preparaba la cena y los familiares las esperaban para la confraternización. En toda casa habia una mesa abundante, repleta de bebidas, panettones, rabanadas y una infinidad de golosinas. Ninõs corriendo por la casa y jugando con sus regalos que el Papá Noel les había traído.
Una música alegre les invitaba a todos para bailar. Rostros felices distribuían sonrisas a todos los que pasaban. A pesar del frío, el calor humano lo calentaba todo, y para los que sentían más frío había el abrigo de pieles o una chaqueta. Era Navidad. Nada perturbaría aquel clima. Todos estaban unidos por el mismo espíritu de paz y amor.
Pero como para todo regla hay una excepción, habia alguien ahí que no tenía razones para sentirse así. No habia sido contagiado por el espíritu navideño. Porque el espíritu navideño no invade almas, se lo tiene que dejar entrar a uno. Para ello, el corazón debe estar alegre, y no todos tienen motivos para esto. Ni en aquella noche el niño veía algo por qué alegrarse.
Adonde mirava veía colores, luces, gulosinas, ninõs que jugaban con su juguetes nuevos y colorados. Las calles animadas contrastaban con su rostro triste, y su estómago ansiaba por, por lo menos, algunas migas de las mesas llenas de las casas más favorecidas. Los colores y el brillo delas calles no eran lo suficiente para alegrar a la oscuridad que le reposaba en el alma, ni las muchas personas que pasaban por las calles y plazas aquella noche eran capaces de oferecerle un poco de compañia.
Entró a la iglesia. Adentro había un presepio, y vio al niño Jesús acostado, rodeado por animales y por Mará y José. Dónde estarían sus padres ahora? Se sentó en uno de los bancos delante del presepio, trató de recordales el rostro, pero solamente una mancha le venía en la mente - el hambre no le dejaba pensar. Hacía frío afuera.
Sentió un poco de comodidad con el calor de las velas, con la limpieza del piso; la blancura de las paredes le dio una sensación de paz. la paz que nuca había sentido, aun cuando vivía con la madre,. Tuvo ganas de que ella le apareciera ahí. Se acordó de su abrazo. Era un abrazo rico...y tuvo ganas de abrazarla. Una gota de lágrima le resbaló por la cara. Miró otra vez afuera, vio a madres que sostenían a sus hijos por la manos, desvió la mirada, pelo al volverse vio el ninõ Jesús acompañado por sus padres.
Ya había escuchado hablar de Jesús, el hijo de Dios. Hasta Él tenía padres! Queria ser el ninõ Jesús, sintió ganas de entrar en el presepio, pero tuvo miedo. Sempre tenía miedo.
Algunas personas ya llegaban a la iglesia. Unas lo miraban, desconfiadas; otras no le notaban la presencia. Le echó un último vistazo al ninó Jesús, y sintió un poquito de envidia de él. Llegaban más personas. Se llenaba la iglesia.
Salió. La soledad le estaba esperando en la puerta. Sintió el frío que le abrazaba, cruzó el brazo. Doblaban las campanas para anunciar la Navidad. La pirotecnia llenaba el aire, esparciendo frente a sus ojos luces coloradas. Se distrajo un poco. Salió corriendo para ver más cerca la pirotecnia.
Medianoche. Hombres, mujeres, niños se abrazaban y intercambiaban, bebían y comían libremente. Confraternizaban. La tele comenzaba a presentar la Misa del gallo. La paz, la comunión, la solidaridad, el amor al prójimo... El clima de Navidad se esparcía por el aire y alcanzaba a todos, menos al ninõ, que miraba la pirotecnia, indiferente. Para él todas las noches eran iguales, porque seguramente no conocía aquellas palabras, como tampoco sabía de qué manera podría saciarse el hambre.
Y salió, solo, por las tristes calles de una alegre noche navideña.
João Rodrigues