Mas hoje é dia 31 de janeiro. A lua está brilhando no céu azulado, que mais parece um mês de agosto. Enquanto escrevo este texto, às 6 e dez da noite, o suor pinga do meu corpo. Lá fora, nenhuma folha balança, o que significa que nem ventando está. Sem sombra de dúvida, este é o pior janeiro que já vi, quando se trata de chuva aqui.
Neste mês choveu apenas uma vez em Reriutaba, uma chuva rápida, e que na ocasião serviu para resfriar um pouco e trazer esperança de uma sequência de chuva - esperança esta que logo morreu com o correr dos dias.
Amanhã será 1º de fevereiro. Temos que ter fé e esperança de que um bom inverno ainda está a caminho daqui, e que não tardará.
Apelo
de um roceiro
Meu
Deus no sertão é preciso chover
Se
não vai morrer o meu alazão
O
chão está seco, todo esturricado
Tá
morrendo o gado, sem água e ração.
Fui
ver meu roçado, o milho morreu
Despareceu
o que plantei por lá
Nem
um pé de planta na roça sobrou
A
seca chegou no meu Ceará.
Meu
Deus eu não peço nem glória ou riqueza
Só
quero a certeza de um bom inverno
Só
peço ao Senhor que chova no chão
Sem
chuva o sertão vai virar um inferno.
Aqui
o matuto que vive da roça
Que
tem a mão grossa, que vive do eito
Se
ajoelha ao chão e começa a rezar
Para
não faltar esperança no peito.
Ele
é homem forte, tem garra e tem fé
No
bom São José, que o inverno vem
Sem
chuva o roceiro fica derrotado
Pois
o seu roçado é tudo o que tem.
Eu
sei que o Senhor pros homens tem plano
Eu
sei, não me engano, mas meu coração
Quando
vê o mundo todo de azul
Fica
tu-tu-tu, cheio de aflição.
Desculpe,
meu Deus, se tou abusando
Lhe
incomodando, pedindo demais
É
porque aqui, ó meu Pai eterno,
Sem
chuva, sem inverno, nós não temos paz.
João Rodrigues Ferreira. Resistência. Expressão Gráfica: Fortaleza, 2014.