terça-feira, 26 de julho de 2011

É novela... é samba... é Cordel!


Foi-se o tempo em que o Nordeste exportava apenas mão de obra para o Sul. Agora povoa também a imaginação de novelistas e até carnavalescos.
Espantou-se, foi? Pois é a mais pura verdade, não é causo, não.
Não se pode negar que o sertão ainda manda sertanejo para as bandas do Sul, como disse Jorge Amado, em sua obra “Gabriela Cravo e Canela”, mas agora também está sendo visto como um celeiro cultural.
Para dar as provas disso, a Rede Globo apostou, com sucesso, em "Cordel Encantado", sua novela das seis, recheado de reis, rainhas, príncipes, princesas, beatos e cangaceiros. E agora chegou a vez da Acadêmicos do Salgueiro, Escola de Samba carioca, que entrará no Sambódromo em 2012 cercado de lendas, mitos e cangaceiros para cantar o Cordel com o samba "Cordel Branco e Encarnado".
Sucesso, para nós nordestinos, o Cordel sempre fez, agora é a vez do restante do Brasil e do mundo ver a nossa arte.
E que viva o Cordel!

Veja o Samba-enredo do Salgueiro 

Salgueiro 2012
(Cheio de poesia, imaginação e encantamento)

Minha "fia", meu senhor
Deixa eu me apresentar
Sou poeta e meu valor
Vai na avenida passar
Basta imaginação
Um "cadim" de inspiração
Que eu começo a versar

Vou cantar a minha arte
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, a boa trova
Era demais importante!

Foi assim que o mar cruzei
Na barca da encantaria
Chegou por aqui um Rei
Com bravura e poesia
Carlos Magno e o os doze pares
Desfilando pelos mares
Da mais real fidalguia

E veio toda a nobreza
Que um dia eu imaginei
Rainha, duque, princesa
E até quem eu não chamei:
Um medonho de um dragão
Irreal assombração
Dessa corte que eu sonhei

Também tem causo famoso
Que nasceu lá no Oriente
De um tal misterioso
Pavão alado imponente
Que cruza o céu de relance
Dois jovens, e um só romance
Vencendo o Conde inclemente

Todas essas histórias
Renasceram no sertão
Onde vive na memória
O eterno Lampião
E não houve um brasileiro
Que de Antônio Conselheiro
Não tivesse informação

Pra viajar no meu verso
É preciso ter "corage"
Vai que um bicho perverso
Surge que nem "visage"?
Nas matas sertão afora
Lobisomem, caipora
Que medo dessas "image"!!

Pra findar esse rebuliço
Rezar é a solução!
Valei-me meu "padim" Ciço!
Vá de retro, tentação!
Nossa Senhora eu não quero
(Tô sendo muito sincero)
Cair nas garras do cão!

E não é que meu santo é forte?
Cheguei ao céu divinal
É tamanha a minha sorte
A minha vitória afinal
É cantar com alegria
Fazer verso todo dia
Na terra do carnaval

Ao ver chegar a tal hora
Da minha "alegre" partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida

Pois eles hão de herdar
Todo esse sertão sonhado
Monarcas que vão reinar
Na corte do Sol dourado
Poetas de tradição
Recebam de coração
Um cordel Branco e Encarnado

E agora eu vou sem medo
Fazer festa "de repente"
Vai nascer um samba-enredo
Pra animar toda a gente
Afinal, não sou melhor
Muito menos sou pior
Só um poeta diferente!
Fonte de Samba-enredo e foto: www.salgueiro.com.br

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