Querido Papai Noel,
Desde que sou criancinha
Ouvi falar do senhor
Dizem que é um velhinho
Bondoso e cheio de amor
Eu sempre quis ter o prazer
De o senhor conhecer
Passei Natal sem dormir
E pedia a Deus do céu
Que um dia Papai Noel
Pudesse passar aqui.
Agora lhe compreendo
Porque aqui nunca passou
Sei que o senhor é bondoso
E certamente tentou
Chegar neste meu mundão
Mas é que o nosso chão
É bem seco, esturricado
O percurso é cansativo
Talvez seja esse o motivo
De o senhor não ter chegado.
O Senhor mora nas neves
Onde faz frio de montão
Completamente o contrário
Do meu querido sertão
Aqui o sol é um braseiro
Queima a terra o dia inteiro
Torra os miolos da gente
E do jeito que está indo
As águas tudo sumindo
Num tem cristão que aguente!
Querido Papai Noel
Me perdoe a petulância
Mas hoje ao senhor escrevo
Sem um pingo de arrogância
Ao Papai Noel Querido
Só quero fazer um pedido
Do fundo do coração
Se o senhor puder me ouvir
Eu só queria lhe pedir
Inverno pro meu sertão.
Aqui a coisa tá feia
A seca tá castigando
O sertão já virou cinza
E o sol continua torrando
Tudo que vê pela frente
Tá quase matando a gente
De tanto fazer calor
Falta água pra beber
O gado pôs-se a morrer
Por isso apelo ao senhor.
Não quero lhe fazer queixa
Por de mim não ter lembrado
De quando eu era criança
De nunca ter me levado
Um pequenino brinquedo
Mas hoje eu lhe intercedo
Por favor, lembre de mim
Realize meu desejo
Não deixe que o sertanejo
Continue sofrendo assim.
Ter um brinquedo diferente
Eu sempre quis, com certeza!
Ter um carro de polícia
Com aquela luzinha acesa
Ou uma bola colorida
Um carrinho de corrida
Que vai pra frente e pra trás
Mas nunca tive essa sorte
Mas hoje sei que o Polo Norte
Do sertão é longe demais.
Por isso, Papai Noel
O senhor tá desculpado
Por nunca em minha janela
Um brinquedo ter botado
E apesar de eu ter crescido
Lhe faço mais um pedido
Do fundo do coração
Mas este é especial
Meu pedido de Natal
É chuva pro meu sertão.
João Rodrigues
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