No último dia 5 de dezembro, sexta-feira, a Escola CERU foi até Fortaleza receber o prêmio de 3º Colocado na modalidade Literatura de Cordel - evento organizado pelo Projeto PETECA, que tem a finalidade de combater o trabalho infantil.
A autora do Cordel, Deigiane Azevedo, já havia ficado em 1º Lugar em Reriutaba, o que lhe deu o direito de disputar a competição a nível estadual. Na época, ela recebeu um Tablet como prêmio.
Agora, a estudante do 7º Ano recebeu um Notebook pela 3ª Colocação.
Deigiane mora na Comunidade do Sombrio e estuda no Centro de Educação Rural (CERU), em Riacho das Fores.
A estudante, como vários outros alunos da Escola CERU, teve aula de Literatura de Cordel durante um ano, em Riacho das Flores, no Programa Mais Educação, e teve como monitora Cristiane Ribeiro.
A Escola CERU é tem como gestora Tamires Cardoso.
A Escola CERU é tem como gestora Tamires Cardoso.
Eis o Cordel abaixo, na íntegra.
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Deigiane declamando o Cordel no Instituto CUCA (Instituto de Cultura, Artes, Ciência e esporte) - Mondubim - Fortaleza |
Um
dia eu vou ser criança!
Ouço
dizer que a infância
É
uma nuvem colorida
Tão
bela quanto o arco-íris
Bem
tranquila e divertida
Em
que a criança curte
E
vive feliz da vida.
Concordo
que seja assim
Pois
a criança é a semente
Que
vai germinar e crescer
Botar
o mundo pra frente
Por
isso ela deve ter
Um
universo descente.
Mas
nem toda criança tem
A
vida que é pra ter
Muitas
não têm nem um teto
E
nem mesmo o que comer
Vivem
no mundo, jogadas
Pelas
ruas a padecer.
Eu
sou uma das que sofrem
Pois
mal tenho onde morar
Pra
brincar não tenho tempo
Muito
menos pra estudar
Minha
vida é um corre-corre
É
trabalhar... trabalhar.
Vejo
crianças correndo
Sempre
felizes, brincando
Outras
com seus fardamentos
Em
sua escola estudando
E
eu aqui, de sol a sol,
O
dia todo trabalhando.
Ainda
fui pra escola
Mas
eu tive que parar
Porque
meu pai me chamou
Pra
na roça trabalhar
Comecei
com 7 anos
Quando
aprendi a plantar.
Depois
ganhei uma enxada
Um
chapéu e uma cabaça
É
de casa pro roçado
E
assim a vida passa
Nunca
conheci a feira
Nem
dei uma volta na praça.
Eu
bem sei que as crianças
Não
vivem pra trabalhar
Se
de manhã elas brincam
De
tarde vão estudar
Eu
queria uma vida assim
Pra
que eu pudesse brincar.
Tenho
um carrinho de lata
Uma
bola e um pião
Mas
onde eu arranjo tempo
Pra
poder ter diversão?
De
noite já tou cansado
Num
guento brincar mais não.
Zezinho,
um amigo meu,
Trouxe
um livro pra eu ver
Tão
bonito, colorido!
Disse:
“Esse é pra você!”
Eu
disse: “Muito obrigado,
Zezinho,
mas não sei ler!”
Ele
disse: “Sem problemas!
Espere,
que volto já.”
Trouxe
um bocado de livros
E
um banquinho pra sentar
Começou
contar histórias
E
eu do lado a escutar.
A
Chapeuzinho Vermelho
Ainda
era criancinha
Vivia
de levar doces
Pra
querida vovozinha
Andava
feliz da vida
Pela
floresta sozinha.
Pinóquio
era de madeira
Mesmo
assim foi estudar
Zezinho,
Huguinho, Luizinho
Viviam
sempre a brincar
E
a Turminha da Mônica
Dá
inveja de lembrar.
E
Moogli, o menino-lobo,
Era
pura diversão
É
verdade que às vezes
Se
metia em confusão
Mas
Baguera e o velho urso
Lhe
ensinavam a lição.
Zezinho
lia com prazer
E
eu ficava admirado
Viajando
nas histórias
Ouvindo
tudo, calado
Tinha
um tal de Peter Pan
Eita
menino danado!
Eu
queria ser o Peter Pan
Pra
voar, voar, voar
Ou
ser o menino-lobo
Pra
nas árvores escorregar
Ou
ser mesmo uma criança
Pra
estudar e brincar.
Zezinho
também me disse
Que
tenho direito à escola
De
viver feliz da vida
De
correr, de jogar bola...
E
não viver no trabalho
Como
pássaro na gaiola.
Me
mostrou um tal de ECA
(Que
muito me admirei)
E
diz nele que o trabalho
Infantil
é contra a Lei
Falou
um monte de coisas
Se
é verdade, eu não sei.
De
repente escuto um grito:
“Francisco,
onde é que tu tá?
Vamo
logo, se avexa
É
hora de trabaiá!”
Olhei
pro Zezinho e disse:
“Um
dia eu vou estudar!”
Sempre
ouço o pai dizer
Quem
espera sempre alcança!
Que
depois da tempestade
Com
certeza vem a bonança
Por
isso espero poder
Um
dia também ser criança.
Deigiane Azevedo
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